segunda-feira, 24 de março de 2014

sufoco destilado


não vai mais suspirar
nem perder fôlego, nem fala
cansou dessa agonia, do sufoco destilado

e dos remendos de mágoas
do seu passado imperfeito
que fazem a tela e o tecido
d’um eterno presente suspenso

mais nenhum ciranda-cirandinha
que o que era vidro se quebrou
rosinha largou do cravo
cuspiu amargo e se mandou

então lembrou dos dias de festa
de fantasia, lantejoulas, filó
sentindo a vaga alegria
dos cafunés no colo de vó


Angela Duarte

em julho de 2009

sexta-feira, 21 de março de 2014

Existe uma revanche
um encontro marcado
um encontro macabro
que vai ocorrer em breve
saudades serão matadas
 

Verdades serão reveladas
algumas pesadas... outras leves...
vergonha terei (se não for)
menos terei, (se faltar)
pois segredos, que só eu sei,
ou quem sabe,

sabe também você.(que, na revanche, também estará)
 

Bom, que sejam poucos ou muitos
se é pra ser uma revanche
que seja da vida inteira
pois sou um pouco de cada um que viveu meu mundo, mesmo que eu não goste, mesmo que eu não queira...

terça-feira, 18 de março de 2014

sábado, 27 de abril de 2013




faltam três minutos para eu morrer,
e não fiz quase nada que queria.
não sei se apenas intenção vale pelo fazer
ou se pra fazer tem que ser bem feito

 

faltam três minutos para eu morrer,
não plantei aquela enorme mangueira que eu sonhava
não aparei a grama do quintal
não coloquei grama do quintal


alias, não comprei a casa com quintal...
não tive um filho presidente, nem jogador de futebol
não amei o amor infinito
não conheci a dor do parto



graças a deus...

 
faltam três minutos para eu morrer
e aquela resposta ainda está entalada na minha garganta...
e aquela pergunta  - eu nem lembro mais qual era -
e nem dá tempo de lembrar porque



só faltam três minutos pra eu morrer...
e eu não perdoei você, eu não disse que te amo - disse, mas queria dizer de novo -
e não fiz tantas e tantas coisas
e outras coisas que nunca mais vou poder fazer

 

como forma de desculpas, poderia ter escrito
um testamento do que podia ter feito,
mas faltam três minutos pra eu morrer
e não vai dar tempo de terminar de escrever...



Túlio Ribeião

sexta-feira, 26 de abril de 2013



A última linha é outra...

Túlio Ribeirão

...de minha janela, morena, eu vejo tua janela olhando pra minha...

Túlio Ribeirão
há muito tempo eu desisti de tentar..
há pouco tempo desisti de parar,
agora parei de desistir,
vou só ver o tempo passar..

Túlio Ribeirão

Não tenho face, logo, não existo...
Vou fazer um face, logo, hesito...
Já tenho face, logo existo...
Não vi nada que preste, logo, desisto.

Túlio Ribeirão

segunda-feira, 18 de março de 2013

Maria de todos os dias


Meu nome é Maria
sou filha da cria
e criei ...
sonhos infantis
ilusões adolescentes
vida de mulher

Meu nome é Maria
aquela que vive
sobrevive
inventa
reinventa
transforma

Meu nome é Maria
as horas me pertencem
do sol ao clarão da lua
a chuva germina e cresce
o que não me seca
refaz

Meu nome é Maria
sou filha da cria
e criei  ...
amores
força e

Meu nome é Maria 

A Dona sou eu.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Concreção

A palavra persegue o poeta até que ele a sinta e a concretize.

23-25/02/2013
01/03/2012
Itaipuaçu

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Compasso

Gosto da vida
Como gosto da música

Com rítmo e harmonia
Mas principalmente com pausas

Anonio C B Campos
Itaipuaçu 22/02/2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Bambu

Um dia me falaram da dignidade do bambu
Que se curva durante a tempestade
Mas não quebra

Pergunto:

Que dignidade há em se curvar?

Itaipuaçu
25/02/2013




terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O desejo dos Alfonsins

                                             Para um amigo que aprendeu a voar.

Houve um tempo de Alfonso e Alfonsin
De Venina e Veridiana
De Jayme e Penha
De Antonio e Marco Antonio
Hoje é o tempo de Arthur e Yasmim

Nas vozes de Arthur e de Yasmim
Ecoam os versos dos Alfonsos, das Veninas e das Penhas
Velhos desejos vestidos de desejo novo
Fragmentos dos sentidos dos avós, das bisavós
Restos de desejo desejado
Heranças

Quando os ouço, dizem-me:
Estudar, trabalhar, casar, ter filhos
Falar bem o Português
E também falar Inglês e Mandarim
Ler os clássicos, os filósofos,
Não ter preconceitos: ler também a Veja, a Piauí, a Folha de São
Paulo...

A Caras, não fica bem!

Não poluir e não fumar
Malhar, correr e saber fazer Yoga
Lavar as mãos antes e escovar os dentes após comer
Não xingar nos jogos de futebol

Rir baixo para que o visinho não perceba que é infeliz

[E só escrever vizinho com "s" se a poesia der a licença.
Me disse o professor do conto do papagaio
que mesmo sem asa, voa.]

Eles creditam na felicidade em forma de mala
Enchem-na, carregam-na
Tornam-se reféns dela.

Que desejo é esse que cede, ao dever, o seu lugar?

Quero o desejo ardido
O desejo filho da falta
O desejo que não se dobre
Que não se submeta

O desejo que se permita trocar de objeto
E que se assuma inconstante, variante, vacilante
Assumidamente insaciável


Desejo fórmula de Química Inorgânica
Que se vá!
Desejo bula de remédio
Que se vá!
Desejo controlado e medido
Que se vá!

Quero o desejo livre da verdade
Livre da vontade aprendida
Livre do olho que não vê e da boca que não fala

Quero o desejo puro
Flecha disparada que perde o alvo
Traça um arco
E goza.




Icaraí – 04/10/2011
Itaipuaçu – 25/10 –
07/11 – 12/12/2011
Barreto 31/05/2012

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

As cidades in - visíveis



Há muitas cidades em mim

Cidade homem
Cidade mulher
Cidades de Ítalo Calvino
... de São João
... de São Sebastião do Rio de Janeiro

Algumas têm cheiro doce
Aninham-se dentro de mim
Se encaixam

Outras irritam e arranham
Arrepiam-me a pele
Me explodem

Enquanto eu,  
                      viajante,
                                    passeio.



Icaraí – 04; 07; 16; 25/10/2011



" "

Agora o mundo é do tamanho do coração da gente.
Icaraí, Facebook, 04/10/2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Sigo o rastro complicado
dos meus próprios passos
Dou-me voltas de avanço
mentais
sem parar.
Tenho de continuar

Errando entre o longe
e o perto
Não quero é ficar num deserto
sabendo que existe o mar
Tenho de continuar.

Chocolate


Comendo chocolate e pensando em você,
Derretendo em minha boca,
Lambuzando meus dedos,
Deixando gosto doce de prazer.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sete Estrelas


Eu sou a música da gente quando nua e crua
Escorro do nariz do pobre quando ele se assua
Sou Carolina na janela desejando a rua...
Com a solitude eu ando acompanhado
Cada virtude minha é um pecado

Varejeira come lixo feito creme chantili 
E que mistério tem aí?
E qual lição que eu aprendi?

Sou o cachorro na viela cobiçando a lua
Sou o vermelho da donzela quando ela menstrua
O amassado na baixela feito com gazua...
A solitude eu quis por companheira
Toda mentira minha é verdadeira

Trepadeira, borda folha feito ponto macramé:
É um mistério de se ver
E uma lição para se aprender
- Pior que a morte é desviver

Varejeira faz zoeira
No monturo do meu coração
Sete estrelas eu quisera
Sete vezes azuis sentinelas do meu violão

Eu canto a lágrima e o sal que o triste chora e sua
Eu sou a fome que há na santa quando ela jejua
O grito doido na garganta de uma cacatua...

Varejeira come lixo feito creme chantili
E que mistério tem aí?
E qual lição que eu aprendi?

Sou a paixão que faz sequela quando pega e encrua
Eu sou o monstro da lagoa quando ele flutua
Se tu disser que é minha, eu digo que é a tua...

Trepadeira borda folha feito ponto macramé
É um mistério de se ver
E uma lição pra se aprender
- Pior que a morte é desviver

Trepadeira tece esteira
Nas paredes do meu coração:
Sete estrelas benfazejas
Sete vezes irmãs sentinelas do meu violão.
 
(Aldir Blanc)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nas Profundezas da Alma Humana



Bela entrevista com a maravilhosa escritora Lya Luft.  Imperdível!!!!


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110425/not_imp710389,0.php

Que horror é o mundo!”. O autor destas palavras, o escritor argentino Ernesto Sábato, morreu neste sábado de madrugada aos 99 anos de idade. No dia 24 de junho teria completado um século de existência.
Lástima que cuando uno empieza a aprender el oficio de vivir ya hay que morir (pena que, quando a gente começa a aprender o ofício de viver já é preciso morrer). Sabato, que era marcado pelo intenso pessimismo, planejou o suicídio duas vezes. Mas, no fim das contas, prevaleceu sua vontade de viver. Morrer, dizia, é algo triste.
Assistia à própria vida como quem assistia a um filme. Um dia, ao acordar, não quis pagar o ingresso, e morreu.
Ninguém, nem mesmo ele, deu por sua falta: era apenas um figurante.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Síncope


Intervalar
Como o momento se liga ao devir
Quero estar na coma que precede o tom
No vão das coisas que vão





Antonio Carlos Borges Campos
26/04/2011
Icaraí