terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O desejo dos Alfonsins

                                             Para um amigo que aprendeu a voar.

Houve um tempo de Alfonso e Alfonsin
De Venina e Veridiana
De Jayme e Penha
De Antonio e Marco Antonio
Hoje é o tempo de Arthur e Yasmim

Nas vozes de Arthur e de Yasmim
Ecoam os versos dos Alfonsos, das Veninas e das Penhas
Velhos desejos vestidos de desejo novo
Fragmentos dos sentidos dos avós, das bisavós
Restos de desejo desejado
Heranças

Quando os ouço, dizem-me:
Estudar, trabalhar, casar, ter filhos
Falar bem o Português
E também falar Inglês e Mandarim
Ler os clássicos, os filósofos,
Não ter preconceitos: ler também a Veja, a Piauí, a Folha de São
Paulo...

A Caras, não fica bem!

Não poluir e não fumar
Malhar, correr e saber fazer Yoga
Lavar as mãos antes e escovar os dentes após comer
Não xingar nos jogos de futebol

Rir baixo para que o visinho não perceba que é infeliz

[E só escrever vizinho com "s" se a poesia der a licença.
Me disse o professor do conto do papagaio
que mesmo sem asa, voa.]

Eles creditam na felicidade em forma de mala
Enchem-na, carregam-na
Tornam-se reféns dela.

Que desejo é esse que cede, ao dever, o seu lugar?

Quero o desejo ardido
O desejo filho da falta
O desejo que não se dobre
Que não se submeta

O desejo que se permita trocar de objeto
E que se assuma inconstante, variante, vacilante
Assumidamente insaciável


Desejo fórmula de Química Inorgânica
Que se vá!
Desejo bula de remédio
Que se vá!
Desejo controlado e medido
Que se vá!

Quero o desejo livre da verdade
Livre da vontade aprendida
Livre do olho que não vê e da boca que não fala

Quero o desejo puro
Flecha disparada que perde o alvo
Traça um arco
E goza.




Icaraí – 04/10/2011
Itaipuaçu – 25/10 –
07/11 – 12/12/2011
Barreto 31/05/2012