quarta-feira, 25 de março de 2009

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

(Adélia Prado)

Um comentário:

  1. É verdade! Mulher é desdobrável! :) E não fica na cama quando está com febre. Talvez o que a derrube eventualmente é uma cólica menstrual - lembrança de que é feita para parir e que isso não é fácil, não.
    Mas depois... é só sacudir a poeira...

    Linkada!

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